2016/09/04

MEMÓRIAS DO DELTA - terceira cena

O Delta está igual. Nada mudou para ele, nem nele. Nem mesmo a vida dos nativos mudou. O sol, o pôr-do-sol possui o mesmo dourado, o vento possui o tempero úmido nessa hora da tarde. Lugar perfeito  para esquecer o mundo e sentir a vida.  Tem um senhor que vive aqui, nasceu aqui há muitos anos. Ele se tornou conhecido por todo o Vale do Rio Parnaíba porque come fogo. E esse é também o nome como ele é conhecido.  É incrível a memória dessa gente nativa. Quando me viu, me disse: - Tenha a impressão que já vi você, mas não pode, eu nunca sai daqui. E você nunca veio aqui.  Ele me falou sobre a lenda dos meninos do Delta. Não sabe ele que se referia a minha pessoa e a Lindonjonson. Quando soube meu nome, começou a rir, deixando sua boca escancarada, onde expunha os dentes caninos. Come fogo não tinha mais os dentes da frente, ele me disse que logo a noite, os pescadores iriam se acostar a beira da praia para comerem peixe... E ele com era de costume poderia mastigar brasas para eu ver. Eu já o havia visto fazendo isto. E é impressionante. Come fogo pega a brasa e coloca na boca. Bom, ao chegar, ele soube o meu nome e ficou rindo. Depois muito alegre me falou sobre a lenda. E disse que tinha uma fotografia dos meninos que passava de mãos em mãos. Rsrsrsrsrs. Ele me falou na beira da praia que eu era o segundo Temiscri que aparecia no Delta. O primeiro havia sido o da lenda. Ele não conseguia dizer Temístocles. Vamos lá, o nome correto: Te – mis – to – cles. Te – mis – to – cles.  Não conseguiu dizer e saiu correndo e rindo, e eu o perdi de vista no areial.  Antes de correr, ele me falou que Lindonjonson já apareceu por aqui. Tem um que todo ano vem aqui. Vem no mês de julho, sempre após o dia 16.  Estamos em julho, 14 de julho. Não acreditei muito nisso, essas pessoas que moram nas aldeias inventam histórias, fantasiam. Mas a lenda dos meninos existe.  Já vi em uma revista em uma reportagem sobre o  Delta. Come fogo disse que tem um homem chamado Lindonjonson que esteve aqui e ficou interessado na lenda. Come fogo volte aqui! Ele não voltou. A noite na aldeia, ele estava rindo a boca escancarada, quando de repente, se levanta, atiça o fogo, tira brasas e coloca na boca. Envolta da fogueira, um dos rapazes me mostra a fotografia. Eu e Lindonjonson... Oh, meu all star, a camiseta de Lindonjonson, a camiseta que ele usava nas aulas de educação física no colégio Oliveira Paiva. Uma lágrima encharcou meu olhar, mas não era tristeza, era felicidade. Eu vivi aquele passado.  A fotografia estava emplastificada. Eu lembro que havia um fotógrafo na Lagoa do Portinho, e nos fotografou dentro da canoa. E quando surgiu a lenda, a fotografia chegou à aldeia pelas mãos do próprio fotógrafo. Dizem que por essa foto dois homens brigaram na praia de Barra Grande. O dono da fotografia me disse que o homem que vem aqui todos os anos quis compra-la, mas ele não vendeu. Prefere ter a foto. Nenhum dele me reconheceu. O tempo deve ter mudado muito o meu rosto. Quando sorrio, agora, próximo aos meus olhos aparecem sinais do tempo. Mas, eu me acho por todos esses dias belo como nunca fui. Eu me libertei de alguma coisa que pesava sobre meus ombros. E esse vento, esse vento faz eu me redescobrir. A estaca que me aprisionou está quebrada. E esse lugar A Praia do Macapá ainda hoje consiste em um vilarejo de pescadores com a paisagem natural ainda intocada. Com é bom olhar para esse mar, no meio do nada e não ver estacas.  Olhar essa imensidão me deu vontade de mim mesmo, me deu vontade de ser outra vez um dos meninos do Delta. Onde eu havia esquecido de mim, eu me lembrei.


MEMÓRIAS DO DELTA . Segunda Cena

 
Está cansando?  Senta ai, calma. Chega de pressa. Quanto mais você corre mais você se distancia de você mesmo. Claro, pode apertar as minhas mãos. Vai ficar ai parado, tentando adivinhar minhas intenções? Não adianta olhar meus olhos, eles mudam, eles se camuflam atrás de muitas intenções. O que? Claro que eu entendi a pergunta. Perguntei o quê para ganhar tempo na resposta. Todas as pessoas charmosas fazem isso. E eu às vezes sou um charme de pessoa. Não posso desconstruir o amor, eu acredito nele. Você... Você está me perguntando se eu estou apto a me apaixonar. Quem não está? Eu lhe pergunto: O que falta? Falta o entremeio. Falta a percepção dos sentidos, se eu não tenho medo de sofrer? Não, não tenho. Tenho medo sabe de que? Medo de não me apaixonar nunca mais. Medo da solidão. Mas sempre  que um sorriso me traduzir uma tentativa, eu redescubro o que é o peito pulsar por alguém ou por alguma coisa. Não necessariamente por uma pessoa. Já bebi de todas as fontes. Não, não acredito nisso, não vejo fragilidade em você... Vejo força e covardia. Você resiste se apaixonar, você resistir a uma declaração de amor?!  Você não acredita mais? Quem mentiu o quê e para quem? Vem, o jantar está na mesa. Você sente saudade?  De quem? Por quê? Cadê esse alguém? Agora, onde está? Ele levou um pedaço de você? Sabe, nós não somos diferentes. Sou igual a você. É claro, cada um com o seu ritmo, com a sua intensidade. Uma vez namorei alguém, e esse alguém me disse: - Meu coração é trancado. E eu embriagado de um sonho romântico, disse: - Vem, eu abro essa porta. Eu abro quantas portas forem necessárias. Mas depois, uma noite qualquer, eu embriagado de álcool, e não mais de sonhos, me vi incapacitado.  E dentro dessa incapacidade, vi desprezado o meu orgulho, meu amor próprio.

Dentro de um livro, eu guardei a rosa que você me deu. Ela está murcha, e ao lado dela hoje, encontro minha esperança roubada por seus gestos impensados. No auge da minha juventude, eu estava apaixonado por..... 

2016/08/30

MEMÓRIAS DO DELTA.



 MEMÓRIAS DO DELTA
O que ficou para ser lembrado quando anoitecesse.


Passei anos vestindo esse uniforme ridículo, para chegar no meio do expediente e ser informado que fui demitido. Filho da puta. Trabalho, casa, trabalho, casa, trabalho, casa, trabalho, casa, trabalho, casa, trabalho. Isso lá é vida. Nunca mais viajei, nunca mais vi gente interessante, nunca mais li um livro. Parece que eu me perdi de um mundo certo que eu queria seguir. E hoje me resta o cansaço de tudo. “O homem é a medida de todas as coisas; das que são, enquanto são, e das que não são, enquanto não são.” – Protágoras. A mente humana quer sempre conhecer as razões do que é.... Ou do que foi... Ou um possível será. Os povos primitivos contentam-se com explicações míticas. Eu quero me propor, ao contrário, quero uma explicação completa e cheia de sentido. A minha memória é povoada pelo conhecimento popular, religioso, filosófico e cientifico. Quero me responder sem o véu da fantasia.  Então para qual dos lados eu me recorro? Não sei como sei de uma maneira peculiar me entender ante a não explicação de mim mesmo... Quero crença, preciso de fé, e sou razão. Se o mais importante para Thales de Mileto, o pai da filosofia, é a água; se o mais importante para Anaxímenes de Mileto, é o ar, a partir de uma substância fundamental; o ar tem seu movimento incessante.  Todo o nascimento se explica por esta separação dos contrários. Toda a morte pelo seu regresso ao seio materno, então quero ainda na força do verbo me intitular alguma coisa, assim como fez Pitágoras de Samos. Mas já sou incapaz de repetir o mesmo gesto. Eu comecei,  alias, eu entrei por aqui, mas o movimento já não é o mesmo. Ele é mutável, ele que era novo, já é velho. E quem o vê não tem o mesmo impacto. Como foi que disse Heráclito: “Tudo flui e nada permanece; tudo se afasta e nada fica parado. Você não consegue se banhar duas vezes no mesmo rio, pois outras águas e ainda outras sempre vão fluindo... É na mudança que as coisas acham repouso.” Será que o princípio de tudo se baseia na força dos contrários?  Quem me fez assim tão real? Você é real? Você pode ser divisível?  Ou para você se aplicam as leis e teorias de todos os elementos indivisíveis? Sou filosofia, sou médico, sou mago, o amor e o ódio, a terra, o fogo, o ar e a água. Há para tudo uma série de coisas que se encaixam. Os homens interagem com o mundo. E entre o mundo e o homem há a fantasia. Não há um conhecimento de uma verdade que não seja fracionada.  Quem foi um dos homens mais inteligentes? Sócrates poderia ser a resposta. Sócrates é diálogo, mas no meu mundo, seja qual for a irrealidade ou a verdade dos fatos, eu não tomarei cicuta. Até  podem tentar, mas eu não me permito ser obrigado a nada. Quando eu me canso, eu morro, mas por conta própria. O que é o amor dentro de mim? Posso mesmo me basear na diferenciação do mundo entre as coisas sensíveis e as coisas visíveis? Uma forma dialética de eu não te receber? Você foi embora e não valorizou a inteligência das coisas tida como a única forma de conhecer a verdade. Champanhe para brindar um encontro. Eu sou medíocre? Obrigado por pensar isto de mim. O que é que você tem contra o amor? Você não sabe amar. Ora, que bobagem, todo mundo sabe amar quando bate à química e quando há equilíbrio.  Eu não nasci para você, mas naquele dia que eu vi o sol iluminando você, seus cabelos ao vento, eu acreditei que você tinha nascido para mim. Seus cabelos, talvez mais dourado que o sol, esvoaçam-se no vento. Aquilo foi real. 

2016/08/10

Aonde está você agora?!

O mundo é muito grande e nele cabe nossa coleção imensa de amigos, de afetos, de encontros que a gente  soma ao longo de nossa jornada. Uma jornada cheia de delírios eu diria!
Comum até nunca mais vermos aquela pessoa que um dia fez nosso coração bater acelerado, muito comum nunca mais vermos aquele primo que ainda pequeno de tão amado por nós, foi embora para bem longe... e nunca mais voltou.

É comum os grandes amigos do jardim da infância terem tomado rumos ignorados. Isso não quer dizer que perderam-se na vida, não, nem sempre foi isso. Muitos deles estão bem, maravilhosamente bem em outros estados, outros países, ou mesmo no interior mais distante. Cabe a cada um de nós guardarmos todos eles no peito, no coração, naquele cantinho que ninguém tira de lá.  Ser amigo é muito bom, encontrar amigos é magnifico, mas reencontrar amigos é fabuloso!
E por onde estão todos os meus amigos que eu colecionei ao longo da vida? Por ai passeando, trabalhando, lutando por suas causas algumas nobres, outras nem tanto. Mas nenhum deles eu apaguei na memória. Lembro deles nem que seja uma vez perdida, mas lembro com saudade.
Amigos são para sempre. As pessoas que são bacanas são aquelas que s]ao também geniais e estas a gente não tira de dentro de nós. Um dia, as pessoas se encontram, se reencontram, se dão, se entregam da forma que podem uma para as outras. E isto é ciclo. Somos todos ciclos irrevogáveis... se pularmos ciclos de nossas vidas, nossa história estará mal contada, estará faltando página. Quem somos nós? Um caminho em busca da vida tentando ainda as coisas palpáveis e inalcançáveis, mas todos nós somos esse caminho que sempre se estica entre encontros e desencontros. Eu sou mais encontro.  Gosto de saber onde estão as pessoas, que eu deixei em algum ponto da estrada. 
Algumas pessoas me buscam, outras a gente se busca mutuamente. E assim percorremos devagar, velozes os dias que se sucedem na mais caudalosa situação em que continuamos sendo.

Alguns amigos, já partiram, já não estão mais entre nós. Tudo é um período. Lembrando aqui ainda que esse período de qualquer tudo poderia ser sempre vivido com profundidade, ávido de gestos e carinhos.

Muitos de nós, também não conhecem os elementos que nos inspira a ter o elixir da vida, e assim seguem, partem, se mudam, se tornam anônimos com sues endereços ignorados. E nós dois? onde estamos agora? Cadê você? Assim como lindo é o titulo de uma peça de teatro, eu pergunto: Aonde está você agora?

2015/01/14

Panorama do Teatro Cearense Marcelo Farias Costa

Lançado em 1994. Livro de suma importância para o estudo e pesquisa do Teatro Cearense. Livro de Marcelo Farias Costa.


Noite de Glória Marcelo Farias Costa

Marcelo Farias Costa estreou seu espetáculo noite de Glória em 07 de Março de 1985. No Teatro da Encetur - Teatro Carlos Câmara. No elenco estrelando Astrid Miranda Leão. Um espetáculo do Grupo Balaio.

Era Uma Vez um Grêmio Dramático. Tese de Doutorado de Marcelo Farias Costa

Marcelo Farias Costa lançou em 2014 muitos livros ,
Aqui livro que é resultado de sua tese de doutorado sobre a obra de Carlos Câmara e seu Grêmio Dramático Familiar.

Marcelo Farias Costa é um teatrólogo cearense. Além de percorrer caminhos diversos, o Teatrólogo também é responsável pela publicação dos livros mas significativos do Teatro Cearense. 


2014/12/27

Olhos de amante!

Quando o homem se apaixona, a pessoa amada faz tudo para criar impasses.
Achando que por ser amado ou amada é o dono da relação,
mas o ideal é que os dois sejam donos da mesma relação.

Um amor nao se maltrata, não!


2014/12/21

Bom esta é a capa do meu Livro.
Para 2015 é o que tenho de imediato!

No mais meus queridos, desejo a todos um feliz natal, um ano de muita paz. É um prazer estar de regresso.

Regressando depois de anos ausente do meu blog!

Estou de  regresso e com todos os pontos necessários. Ha muito tempo que não acesso o meu blog. Faltou no começo de tudo entusiasmo, e o tempo foi passando, depois faltou tempo, e deixou esqueci minha senha. Isto é quase trágico,  mas recuperado de meu Alzheimer temporário conseguir acessar. poxa tanta coisa aconteceu, e confesso que está  voltando o meu entusiasmo para com a escrita. Nesse tempo todo eu não deixei de escrever, continuei com o meu exercício quase que diário.  Há um ano e nove meses eu sofri um acidente! E confesso que nesse período de recuperação, eu me tornei muito mais preguiçoso do que eu já era. A novidade que eu trago para 2015 é o lançamento do livro: -   O Teatro de Antônio Marcelo. Livro que está saindo pela Coleção Capricórnio de Teatro, 

Amigos, estou sentido falta de novos amigos, não dos velhos amigos, mas de gente que me traga novidades. 
E ai como estou? Muito diferente, O rosto já não é o mesmo, Eu não tenho mais aquele corpo de menino franzino que mantive ate os 37; E depois do acidente ele ficou todo modificado, Tem gente que me cobra uma academia, mas estou com preguiça, Eu não irei mais competir nenhuma maratona, Então não preciso obedecer regras. E sobre o meu rosto, acho que ele está mais bonito, apesar de totalmente diferente. Gosto do meu rosto frontal, de perfil não. Mas enfim, a beleza não é para ser cobrada em mim. Não sou top. Não sou modelo, mas me olho e encaro um homem bonito no espelho de mim mesmo.  Quero só uma vida sossegada!


Mas o bordão é verdadeiro

2012/01/19

FOTOS DE THIAGO ANASTÁCIO. A PENUMBRA DE NIX

QUEM PODE EXPLICAR O QUE SURGE NA CRIAÇAO DO MUNDO. TUDO TEM UMA CLAREZA, MAS SOMENTE SENTIR O QUE É CLARO É QUE É REALMENTE ILUMINADO.

PAOLA VIVIDA PELA VETERANA KÁTIA CAMILA TENTA SEDUZIR JADSON... E O DESPECHO DISSO É INESPERADO


ENTRE CANÇOES E PALAVRAS POÉTICAS A CONSOLIDAÇAO DE UM AMOR PARA ALÉM DA VIDA
PAOLA TEM UMA CERTEZA - ELA TERÁ JADSON EM SEUS BRAÇOS. E JADSON TAMBEM TEM UMA CERTEZA OPOSTA, QUE É A CERTEZA QUE NÃO ESTARÁ NOS BRAÇOS DE PAOLA.
A GRÉCIA SERVE COMO INSPIRAÇAO PARA O ENREDO DE ANTONIO MARCELO.
LEVI ADONAI E ANTONIO MARCELO PROTAGONIZAM A PENUMBRA DE NIX.
TODO O SENTIMENTO QUE ESTÁ ENVOLTA DELES É COLETIVO. ELES AMAM JUNTOS E SOFREM A MESMA DOR.
A PENUMBRA DE NIX. GRUPO QUIMERAS DE TEATRO. FORTALEZA 2012.

TODA SEGUNDA FEIRA, ELES SE ENCONTRAM SOBRE UM TUMULO, E DESFIAM ESSE AMOR SOBREVIVIDO E RECONSTRUIDO EM CADA ENCONTRO
ANTONIO MARCELO E KATIA CAMILA EM CENA DE A PENUMBRA DE NIX.